Ela nasceu num sábado. A maioria das boas enfermeiras estava de folga e as que ficaram na maternidade, bem, eram as que eu tinha à disposição. Ou não.
Era nossa primeira ou segunda noite naquela maternidade, não me lembro bem. Sei que era madrugada. Mas isso não fazia a menor diferença no meu fuso horário afetado. Quando me trouxeram o almoço, pensei que era janta. Na minha cabeça, eu tinha almoçado às sete horas da noite.
Então, era madrugada, a nenê já tinha mamado, mas acordou chorando. Eu tentei amamentá-la de novo, mas ela chorava muito. Não demorou, uma enfermeira chegou no quarto.
- Oi, se você quiser, tem fórmula.
- Fórmula?
Eu não conseguia pensar direito com o choro dela nos ouvidos.
- O que é fórmula?
- Fórmula é para você dar pra sua nenê.
Realmente o meu raciocínio estava prejudicado. Ainda por cima, a moça falava comigo em código.
- Como assim, fórmula?
- É pra ela parar de chorar.
- É remédio?
- Não. É Aptamil. É pra ela tomar. Muitas mães dão, aí o nenê para de chorar.
- É remédio pra dormir? Eu não vou dar remédio pra minha filha.
Eu custava a entender. Fórmula, como eu visualizava, era alguma substância num tubo de ensaio, sei lá. Era madrugada, eu estava acordada num hospital e não sabia o que fazer.
- Não, é apenas fórmula. Muitas mães dão. Então, você vai querer?
- Eu vou pensar. Agora não consigo decidir.
Como o pai e eu não conseguimos resolver a situação do choro, dez minutos depois voltaram duas enfermeiras.
- Você não vai dar fórmula pra ela?
Eu já tinha desistido de entender.
- Você acha que eu deveria dar?
- Muitas mães dão.
Ela não parava de chorar.
- Tá bom. Pode dar.
Aí a moça voltou com um copinho descartável de café. Dentro dele, um pouquinho de leite e uma sonda bem fininha.
- Isso é fórmula? Mas isso é leite em pó!
- Pois é.
- Vocês não têm banco de leite?
- Não.
Aí me lembrei que não estava no hospital que escolhi. O que eu tinha escolhido tinha banco de leite, mas estava lotado no dia em que começou meu trabalho de parto. Todo mundo queria ter filho no dia primeiro, então agendaram suas cesárias naquele sábado... será que era pelo signo do horóscopo? Superstição? Sei lá. Essa gente é muito besta mesmo. Então eu estava aqui.
A moça posicionou a sonda e a nenê sugou todo o conteúdo do copinho. Parou de chorar e dormiu.
As enfermeiras ficaram aliviadas com o silêncio e foram tirar seu cochilo.
Eu fiquei lá, olhando minha nenê.
Não achei tão ruim ela ter tomado fórmula na maternidade. O que me preocupava mais era ter percebido a dimensão da minha ignorância. O tanto de coisas que eu não sabia e, pior, nem tinha ideia de como ia aprender. Percebi também que as pessoas ao meu redor já estavam tão habituadas, que para elas era difícil até explicar o quê ou o porquê disso ou daquilo.
A minha inexperiência me afligiu.
Quanta coisa!
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