terça-feira, 30 de junho de 2015

Aprenda com o pai

(Créditos da imagem: "Melhor" pai do mundo - Dave Engledow)


Você, que agora é mãe, se queixa de estresse e de falta de ajuda no cuidado com a cria.

E quando recebe alguma ajuda, do pai, principalmente, não consegue relaxar, pois acha difícil ceder o controle com respeito à maneira como são feitas as coisas com o bebê ou na casa.

Eu sei como é.

Muitos pais desistem de ajudar porque simplesmente não param de ser corrigidos. Não recebem crédito nem pela vontade de aprender. E se sentem constantemente fiscalizados, obrigados a prestar contas de detalhes que, convenhamos, não são tão significativos.

Mas se você me permite um conselho, aí vai.

Quer se cansar menos, aprenda com o pai.

Quer ser feliz na vida, esteja mais aberta a aprender do que impaciente para ensinar.

A mãe não sabe tudo. Nem o pai. Por isso, nem você, nem ele, são perfeitos. E nem precisam ser, porque ninguém é.

Portanto, que ninguém tenha a presunção de ter todas as respostas certas. E que cada um se permita aprender.

E errar.

Se esse erro não for deixar a criança aleijada e nem atentar contra o bem-estar ou a vida dela, é válido.

Pra gente ver como o espectro do aprendizado é amplo.

Primeiro, quebrar paradigmas. Por exemplo, um alimento que você, mãe, tem convicção de que a criança não vai nem experimentar. O pai pode descobrir que é o preferido do neném.

Outro: uma roupa que você achava que não ia servir. Ficou ótima, dessa vez foi o pai que vestiu o neném.

Importante lição agora: por que os pais não se cansam tanto quanto as mães? Eles dormem quando o bebê dorme. Dormir de vez em quando. É legal e não faz mal.

Mais. Eles confiam que o bebê tem a capacidade de se distrair sozinho e não passam tanto tempo preocupados em cercá-lo de estímulos e distrações. Brincar com a criança é bom. Mas todo mundo tem limite, ninguém consegue passar o dia inteiro sentado no chão dando comidinha de mentira a bonecos. E a criança precisa aprender que não é centro do mundo.

Sem falar no tédio. O tédio, na medida certa, é importante para a criatividade da criança.

Nosso momento de tédio também é importante. Para quê? Ora, sem tédio todo mundo enlouquece. Algumas mães, com certeza, se estressam e depois ficam se culpando: o que estou fazendo de errado?

Isso:

Terminar as tarefas a tempo não é tão fundamental.

O bebê pode usar a mesma roupa várias vezes (confira apenas o cheiro).

Uma refeição a mais ou a menos por um dia só não vai matar a criança, se esta é saudável e tem peso bom.

Sujeira e bagunça acontecem.

A criança assistir desenho no celular algumas vezes na vida não vai causar danos cerebrais.

Flexibilidade é importante.

Elogie o pai pelo esforço.

Elogie mais, se ele alcançar o resultado. Não importa que não seja pelos mesmos meios que a mãe usa.

A criança está bem, viva, inteira e feliz. Pronto, ele é um bom pai.

Maternidade: quer ficar inteira nessa vida, aprenda com o pai.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Carta aberta à mãe perfeita


Olá, mãe perfeita. Tudo bem?
Se você existisse, eu diria que te admiro, de coração.
Você, que conseguiu o tipo de parto que planejou.
Você, que não teve dificuldades em amamentar um bebê com pesagem ótima.
Você, que perdeu todos os quilos que adquiriu na gravidez e voltou às medidas de antes.
Você, sempre pronta e disposta ao ser procurada por seu par.
Você, que dorme a noite toda e não tem olheiras.
Você, cujo bebê preenche toda a descrição de felicidade.
Você, que se sente bonita e tem amor incondicional.
Não chora, não se frustra, não se irrita com os comentários alheios.
Você foi contemplada com o máxima dádiva.
Cuida de tudo sozinha. E não reclama.
Como você tem todas as respostas?
Quando você fala, os outros se sentem ignorantes.
Mas fique à vontade para me mostrar sua felicidade.
Sua sabedoria, sua suprema bondade.
Eu só não confraternizo contigo porque você não é de verdade.
Eu só não te aplaudo mais, porque você, mãe perfeita, não sou eu.
Eu venci muitas lutas comigo mesma todos os dias.
Vi a face da minha própria mortalidade, ao mesmo tempo em que comecei a carregar aquele peso.
A séria responsabilidade de ter posto uma pessoa no mundo.
E nesse caminho, precisei de respostas quando ainda nem sabia quais eram as perguntas.
Sentia que tinha que me levantar antes mesmo de cair.
Diferente de você, perfeitinha, eu nem sempre acertei.
Nem sempre me aceitei.
Muitas vezes, com dúvidas, hesitei.
Mas os erros e a hesitação me ensinaram a humildade do aprendizado.
As lágrimas que verti abriram meus olhos para ter empatia com a dor alheia.
Para chorar com quem chora.
Para silenciar e ouvir.
Para a aceitação.
Para acreditar que há um motivo.
Mesmo sem motivo.
E a fraqueza extrema me fez sentir a essência da humanidade. 
A minha, a sua, a nossa.
E como o ser humano é forte. Com todas as imperfeições.
Foi penoso construir sentimentos que não vêm em pacotes de loja.
Coragem, resiliência, compaixão.
E a luta pelo amor do meu bebê me fortaleceu o coração.
Para hoje enfrentar qualquer batalha.
Inclusive aquela, de me olhar no espelho sem me criticar.
Inclusive, tendo a ousadia de não fazer qualquer ressalva, quanto ao que eu era e quanto ao que sou hoje.
Mãe perfeita, hoje eu estou a meu favor.
E não contra mim.
Lógico que eu te admiro.
Você não tem conflitos existenciais.
Mas eu me admiro mais.