domingo, 28 de dezembro de 2014

O conforto de sair da zona de conforto

O ano ainda nem acabou e já tenho motivos suficientes para ser grata por tudo o que se passou nele.

No início de 2014, ela estava na fase de transição alimentar. Eu estava feliz, porque tinha aprendido a cozinhar para minha nenê, ela gostava da minha comida e estava ganhando peso e crescendo.

Eu achava que esse era o único sucesso da minha vida: minha filha saudável e feliz. 

Fora isso, meus projetos de estudo haviam falhado, além de outros planos que tinham ido por água abaixo. 

Frustrante. Eu me sentia velha e começando minha vida ainda. Tardiamente.

De lá para cá, aparentemente, pouca coisa mudou. Claro, o ano passou e eu envelheci um pouco.

Mas agora me sinto nova, porque estou começando minha vida ainda. 

Felizmente.

Eu costumo descer do apartamento com ela para tomar sol e andar um pouco, quase todos os dias. Geralmente, procuro crianças para ela brincar também. O problema é que nem todas as crianças são simpáticas ou receptivas. Quando ela percebe isso, também não insiste e prefere brincar sozinha.

Então, um dia ela ganhou essa bola de futebol do avô materno. Não era uma dente de leite, era uma bola de futebol de verdade. Ela amou o presente e ontem eu resolvi ficar com ela embaixo do bloco, brincando com a bola. Não pretendia me movimentar muito, estava com preguiça de jogar a bola com as mãos. Por comodismo, então, resolvi ficar chutando a bola contra a parede.

Futebol é uma coisa preguiçosa, pensei.

Ela adorou. Gritava "mamãe!", corria e dava risadas altas.

Ventava muito e vento queria levar a bola. Ela se empolgou cada vez que me via correndo de havaianas atrás da bendita bola.

Corremos juntas.

Falharam os meus planos de ficar parada.

E esse foi um dos momentos mais desajeitados e alegres para mim, nesse ano.

Um dos mais alegres, sim, por perceber o início da troca entre mim e ela. 

A autora Laura Gutman fala sobre isso no livro "A maternidade...". Segundo ela, o que o adulto tem a oferecer à criança é a racionalidade do mundo, a lógica, as explicações, a cultura, a educação. Mas o que a criança tem a oferecer ao adulto é o lúdico, a criatividade, a imaginação, a fantasia e brincadeira. 

Eu concordo. De alguma forma, toda criança busca o que temos a lhe oferecer, porque ela vive para aprender. Receptiva, observadora, ela tenta compreender o que se passa no mundo. Depois que começa a falar, então, vive para perguntar e buscar respostas. 

Mas e do nosso lado? Estamos abertos para o que elas têm a nos oferecer?

Espero que sim.

Espero que, sendo pais ou mães, saibamos que o fato de sermos adultos não nos faz senhores da razão. Não nos faz nem senhores de nós mesmos, tanto que temos que repartir o tempo que antes era só nosso com nossos filhos. Preservar o que é nosso e cuidar do que é deles. Para a saúde emocional deles e a nossa.

E isso não vale apenas para quem tem filhos. Li em algum lugar que uma pessoa se sentia grata pelo cachorro de estimação. Ao se ver obrigada a cuidar dele, levando-o para passear todos os dias, ela era levada a cuidar da própria saúde também. O cachorro precisava caminhar, ver o sol, as árvores, a paisagem. O dono do cachorro também. E assim se curavam silenciosamente as feridas do dia.

Essa cura silenciosa é o resultado de sair da zona de conforto.

Ela está operando em mim.

E eu sou grata por tudo isso.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Você agora é você

Espiar para fora do mundo da maternidade significa, sem sombra de dúvida e em primeiro lugar, olhar para  dentro de si mesma. Não se trata de nada exterior, em princípio, mas interior. Por exemplo, hoje em dia é comum algumas novas mães se obrigarem a sair de casa para fazer alguma coisa (jantar fora com o marido é uma delas), para demonstrarem que estão "se cuidando" e não apenas enterradas no mundo materno. Eu mesma fiz isso quando minha filha tinha cinco meses.

Acontece que eu não estava nada bem naquela época. Sei que é tabu falar de depressão pós-parto, no mundo em que vivemos. As mulheres de hoje estão praticamente equiparadas aos homens em tudo, e por isso talvez se negue a elas o tempo e o espaço de agir com a fragilidade própria da natureza feminina, em situações como pós-parto, por exemplo. É apenas a minha opinião.

Ouço falar de depressão pós-parto com menos frequência do que gostaria. Não porque desejaria que as novas mães estivessem deprimidas, mas porque talvez isso signifique que muitas delas não revelam essa condição. Ou porque não a admitem, ou porque não sabem se devem fazer isso, nem como.

Estou aqui falando de incógnitas. Logo, não posso falar do assunto em termos gerais, mas somente específicos, naquilo que se relaciona à minha experiência.

Anote aí. Quando você fala da sua experiência, é bom que isso seja para ajudar alguém. As pessoas que me falaram de suas experiências de depressão pós-parto não me ajudaram, porque não me disseram o que fizeram para sair daquilo. Sim, você tem que fazer alguma coisa. Senão, fica pior.

Quando a nenê completou trinta dias de vida, meu marido continuava me ajudando tanto como nos primeiros dias. Embora muita gente tenha estranhado isso, na época, era complicado explicar para os outros o que estava se passando comigo, o motivo por que eu ainda não tinha me "restabelecido totalmente". Não tinha nada a ver com a cicatrização da cesária, que ia bem, mas com todo o resto. Era todo o ser emocional, que estava oscilando entre dois pólos: cansaço e culpa.

O cansaço decorrente da dedicação, da rotina, das preocupações. A culpa, nos momentos de "descanso". Ou seja, eu trabalhava e não descansava, porque todo o meu tempo era ocupado com culpa e preocupação. Com e por quê? Com e por tudo. Tudo o de ruim que existe nessa vida e nesse mundo. Com o fato de não poder fazer nada para evitar que uma mazela qualquer dia viesse a atingir a minha cria. Desastres, pesadelos, doenças, morte. Tudo me ocupava e preocupava.

A especialista me falou que a principal característica da depressão pós-parto é a falta de esperança. Digamos que tudo se resumisse nisso.

Mas a questão principal é: Há lugar para uma mãe que se sente assim? Estando saudável e tendo um bebê também saudável?

Há lugar. Tem que haver. Se não há, tem de ser criado. Por você mesma.

E aí me atrevo a dar os conselhos que talvez possam ser úteis a alguém, porque foi o que eu fiz para sair da prisão da culpa e do cansaço.

Se o seu corpo todo dói, se você não dorme, se suas roupas e sapatos não servem mais, saiba que você não é apenas o corpo.

Se sua mente não está funcionando direito, se sua emoção tem armadilhas que te prendem, saiba que tudo isso tem jeito se você tomar as rédeas da situação.

A primeira coisa é: ignore bastante o que pessoas te falam. Lógico, elas não falam nada por mal, mas por bem. Mesmo assim, atrapalha. A questão é que você não pode depender do que os outros acham, mas do que você sente. Por exemplo, a frase que mais ouvi naquela época, em primeiro lugar disparado, foi: "Cuide de si mesma para estar bem e cuidar de seu bebê" . Essa inocente frase também é uma pequena armadilha. Porque a partir do momento em que você deixa de cuidar de si mesma, sente culpa por estar se limitando como "ferramenta" para os cuidados do bebê. Olha a culpa aí de novo...

Então, apenas cuide de si mesma. Não pelo bebê, nem por outra pessoa. Por você, apenas. O resto, como os cuidados ao bebê, é consequência.

Mas afinal de contas o que é cuidar de si mesma?

Para você, eu não sei. Para mim, eu também não sabia e tive de descobrir.

Não era jantar fora, com certeza. Não era ir ao cinema nem ao parque.

Para a mente, fiz algumas coisas. A primeira foi falar sobre o que estava acontecendo comigo. Eu procurei uma especialista, uma psicóloga. Tive a sorte de encontrar alguém que entendeu o meu problema e me acompanhou. Se você tem preconceito contra submeter-se a terapia, eu lamento o que você pode estar perdendo. Se você acha que isso é coisa de gente doida, eu acho que quem não faz terapia tem muito mais chances de estar doido. E nem saber da própria doidura.

A segunda coisa que fiz foi algo que me traz bastante tranquilidade: ler. Mas não ler livros sobre maternidade. Uma das leituras mais proveitosas que fiz foi o best seller "O poder do hábito". Aos poucos, lendo devagar, levei vários meses para concluir o livro. Também, eu não estava com pressa. Claro, você pode e deve ler qualquer livro que goste, isso tem mais a ver com suas preferências pessoais. Eu gostei desse livro porque não era uma autoajuda infantilizante, nem algo que me fizesse sentir pena de mim. O estilo do autor é objetivo e bem prático, com muito embasamento científico. Acho que o assunto, em si, é interessantíssimo. E pode eventualmente te ajudar a entender seus hábitos e mudá-los.




A terceira coisa que fiz foi procurar algo que me fizesse rir. Naquela época eu sentia muita saudade do ambiente profissional. Sinto até hoje, na verdade, mas aprendi a lidar melhor com isso. Sempre trabalhei fora ou estudei, de forma que ficar o dia inteiro em casa e não ter ânimo para nada era algo que me abatia. Eu tinha que arrumar um jeito de lidar com isso. Sabe o que fiz? Toda a noite depois que a nenê dormia, eu assistia "The Office" no Netflix. Posso dizer, sem nenhum constrangimento, que Steve Carell me ajudou a sair da depressão pós-parto. Ri litros, como dizem as pessoas jovens.


Mas é claro, você pode assistir aquilo com que mais se identifica. Tem gente que gosta de comédia stand-up, tem gente que prefere Walking Dead ou American Next Top Model. Seja lá o que for, deixe sua mente se distrair um pouco da vida materna, experimente outras emoções que não estejam tão relacionadas à sua nova condição. Mesmo que isso ocorra na última meia hora do dia.

Dica: não assista vídeos de parto, nem nada sobre bebês.

Bem, essas coisas eu fiz para a mente. Para o corpo, contei com a ajuda do Pilates. Não que eu buscasse voltar ao meu antigo corpo, nada disso. Minha condição emocional nem me permitia acreditar nessa possibilidade. É que eu precisava fazer algo que já tinha feito antes. Quem me ajudou foi minha fisioterapeuta, hoje minha amiga também. Cinco meses após o parto, procurei o estúdio e ela me avaliou. Na primeira aula, disse assim:

- Agora você vai fazer dez abdominais.
- Mas eu não consigo.
- Consegue.

Eu fiquei parada.

- Vai. Pode fazer.

Eu fiz. Porque acreditei.

Aquilo não parecia ser nada para quem estava olhando. Mas para mim, era muita coisa.

Era a minha primeira flexão abdominal após o parto. O que senti, naquele momento, era que estava voltando à vida. Que minha barriga não era mais apenas um "ex-container de bebê", agora desocupado e acabado, pois tinha músculos. Não estavam na melhor forma, mas eram capazes de fazer uma flexão abdominal. Duas. Dez.

Na outra aula, fiz vinte. Passado algum tempo, trinta, quarenta. 

Noventa. Eu sou o máximo.

Era o Pilates me fazendo voltar a ser quem eu era. Quem eu sou. Mesmo que essa barriga anida esteja por aqui, mesmo que as roupas de antes ainda estejam guardadas, eu posso dizer que voltei à vida. 

Porque agora eu tenho esperança. Porque agora minha mente descansa, porque eu trabalho e durmo, porque eu aprendo e ensino. Porque eu leio, escrevo, falo, mas também escuto.

Porque eu sou mãe, mas também sou e não sou quem costumava ser. Somado àquilo que ainda estou me tornando.

Ainda nem sei o que é. Mas tenho um bom pressentimento.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Leituras para maternidade (e então chega)

Depois de ressaltar o quanto é maravilhoso ser mãe, vale muito a pena falar sobre o que chamam de "lado B" da maternidade. Não ousarei ainda falar eu mesma, por enquanto vou apenas fazer algumas indicações. 

A primeira vez que vi o termo "lado B da maternidade" (embora já o vivenciasse) foi no blog da Shirley Hilgert ,que, inclusive, me ajudou muito. Ela escreve sobre maternidade de maneira muito agradável, ao mesmo tempo sendo franca, e derrubando certos mitos. Para mim, é o blog número um em se tratando de assuntos de maternidade.

O outro blog que me ajudou (e ainda ajuda) é o www.scarymommy.com. Composto por várias mães escritoras, os textos se apresentam mais em forma de desabafo. Sinceridade, sarcasmo e besteirol na medida certa, o que acaba gerando bastante empatia nas mães que gostariam, pelo menos uma vez, de ter essa atitude, mas não têm espaço e nem coragem. Eu rio e algumas vezes já me emocionei. Acho impossível não me identificar com os momentos mais críticos daqueles relatos.

Vila Mamífera  também é legal, tem relatos de parto normal, muita informação sobre amamentação, enfim, o foco é a maternidade ativa. Cheguei a ler, mas não muito. Talvez pela minha história pessoal, eu acabe percebendo que enfatiza coisas que eu gostaria de ter vivenciado, mas por razões que escaparam à minha vontade, não pude. Vejo esse conteúdo mais como ideal a ser alcançado, mas tomando sempre o cuidado de me proteger de eventuais comparações e frustrações.

Tentei ler outros blogs, mas não me ajudaram muito. O mamatraca, por exemplo, é um lugar onde as mães estão mais preocupadas em desabafar do que em realmente comunicar algo. Não vejo muito propósito nisso. Mas tudo bem, é o espaço delas. E pode haver quem goste.

O GVA (Grupo Virtual de Amamentação) é militância pura. Elas não admitem debate algum, de maneira que você só consegue participar do grupo se concordar com tudo o que elas pensam e orientam. De modo geral, demonizam mamadeira, chupeta, leite em pó, vitaminas e pediatras. Muito radical.

Saindo um pouco do virtual, recentemente comprei um livro ótimo chamado "A maternidade e o encontro com a própria sombra", da autoria de Laura Gutman. Recomendo demais para quem pensa em ser mãe, para quem já engravidou, para quem é mãe... enfim. O foco principal dessa obra é entender que a maternidade, como processo, não diz respeito somente a gerar um filho e tê-lo separado do corpo com o nascimento. Esse é apenas o aspecto físico. Inerente a esse processo, há um lado emocional que não pode ser ignorado, como costumamos fazer sem perceber. E esse lado emocional é a "sombra" da maternidade. Isso, explicado de maneira grosseira, significa que a história emocional da mãe é projetada no bebê como se fosse uma "sombra", o que representa uma grande variável de repercussões, para ambos. A superação das limitações e as lições extraídas a partir disso mostram como ainda estamos aquém de entender o que se passa entre mãe e bebê, tanto na gravidez como no pós-parto. A autora explica isso muito bem no livro.



É isso. Agora já chega de falar sobre leituras exclusivas de maternidade. No próximo post, vou falar sobre atitudes que permitam às mães sair um pouquinho do universo materno, dar uma espiada lá fora, para ver o que acontece além das trincheiras desse cafofo cheio de fraldas e mamadeiras. Depois de tudo o que você passou, entenda que vai chegar o momento em que você se dará o direito de voltar a ser quem era (ao menos em parte). Talvez não aconteça de um momento para outro, pois para cada pessoa é diferente. Seja como for, esteja aberta à possibilidade de haver uma surpresa maravilhosa do outro lado, quando você descobrir que não é mais a pessoa que costumava ser, mas alguém muito melhor. Alguém disposto a reaprender a viver, a construir uma identidade mais rica, mais fluida, mais nítida e corajosa. Afinal, o cérebro da mãe é diferente, há mais coisas circulando no seu sangue do que antes. Seu corpo e sua alma também não são os mesmos, porque sua estrutura física e emocional mudou. Quem sabe, você já tenha virado uma super mulher com um super cérebro e nem saiba disso. Mas se já sabe, terá ainda mais certeza.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O que é fórmula?



Ela nasceu num sábado. A maioria das boas enfermeiras estava de folga e as que ficaram na maternidade, bem, eram as que eu tinha à disposição. Ou não.

Era nossa primeira ou segunda noite naquela maternidade, não me lembro bem. Sei que era madrugada. Mas isso não fazia a menor diferença no meu fuso horário afetado. Quando me trouxeram o almoço, pensei que era janta. Na minha cabeça, eu tinha almoçado às sete horas da noite.

Então, era madrugada, a nenê já tinha mamado, mas acordou chorando. Eu tentei amamentá-la de novo, mas ela chorava muito. Não demorou, uma enfermeira chegou no quarto.

- Oi, se você quiser, tem fórmula.
- Fórmula?

Eu não conseguia pensar direito com o choro dela nos ouvidos.

- O que é fórmula?
- Fórmula é para você dar pra sua nenê.

Realmente o meu raciocínio estava prejudicado. Ainda por cima, a moça falava comigo em código.

- Como assim, fórmula?
- É pra ela parar de chorar.
- É remédio?
- Não. É Aptamil. É pra ela tomar. Muitas mães dão, aí o nenê para de chorar.
- É remédio pra dormir? Eu não vou dar remédio pra minha filha.

Eu custava a entender. Fórmula, como eu visualizava, era alguma substância num tubo de ensaio, sei lá. Era madrugada, eu estava acordada num hospital e não sabia o que fazer.

- Não, é apenas fórmula. Muitas mães dão. Então, você vai querer?
- Eu vou pensar. Agora não consigo decidir.

Como o pai e eu não conseguimos resolver a situação do choro, dez minutos depois voltaram duas enfermeiras.

- Você não vai dar fórmula pra ela?

Eu já tinha desistido de entender.

- Você acha que eu deveria dar?
- Muitas mães dão.

Ela não parava de chorar.

- Tá bom. Pode dar.

Aí a moça voltou com um copinho descartável de café. Dentro dele, um pouquinho de leite e uma sonda bem fininha.

- Isso é fórmula? Mas isso é leite em pó!
- Pois é. 
- Vocês não têm banco de leite?
- Não.

Aí me lembrei que não estava no hospital que escolhi. O que eu tinha escolhido tinha banco de leite, mas estava lotado no dia em que começou meu trabalho de parto. Todo mundo queria ter filho no dia primeiro, então agendaram suas cesárias naquele sábado... será que era pelo signo do horóscopo? Superstição? Sei lá. Essa gente é muito besta mesmo. Então eu estava aqui.

A moça posicionou a sonda e a nenê sugou todo o conteúdo do copinho. Parou de chorar e dormiu.

As enfermeiras ficaram aliviadas com o silêncio e foram tirar seu cochilo.

Eu fiquei lá, olhando minha nenê.

Não achei tão ruim ela ter tomado fórmula na maternidade. O que me preocupava mais era ter percebido a dimensão da minha ignorância. O tanto de coisas que eu não sabia e, pior, nem tinha ideia de como ia aprender. Percebi também que as pessoas ao meu redor já estavam tão habituadas, que para elas era difícil até explicar o quê ou o porquê disso ou daquilo.

A minha inexperiência me afligiu.

Quanta coisa!

E a vida dela, nas minhas mãos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Quem tem coragem?

Quem tem coragem de mudar?
Quem tem coragem de apostar
sua zona de conforto
nessa mesa de bilhar?

Quem não tem medo
de não ter sempre controle,
vendo a si mesmo,
e assim mesmo,
aproveitar o dia de hoje?

Se você pode se olhar no espelho,
sem arremedo;
se você pode não ter segredos,
nem o impulso de fugir
nem favores pra pedir,

Se você pode ser novo ou velho,
E ainda assim se reconhecer;
É por você que eu sempre espero
E é você que eu quero ser.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

É um prazer te conhecer

Lá pelos idos de 2013, um amigo nos perguntou como estava nossa vida com a neném. Na época, ela ainda era recém-nascida. A resposta que demos foi: "Ainda estamos nos conhecendo. É uma adaptação." Essa era a nossa sincera impressão. Pelo semblante do nosso amigo, a resposta sincera o surpreendeu. E, estranhamente, a mim também. Ouvir isso em voz alta confirmava uma quebra de paradigma. Um paradigma que o marketing e a cultura popular ostentam e divulgam: que quando nasce um bebê, nasce uma mãe pronta (e um pai também). Tudo maravilhoso, certo?

Bem... você sabe.

Nas primeiras semanas pós-parto, eu sentia que tinha um hóspede em casa. Mas como esse hóspede não falava, eu tinha que decifrar todos os pequenos sinais possíveis, a fim de descobrir quais eram suas necessidades. Esse era o meu lado. 

Do outro lado, estava ela, tentando se adaptar à vida fora do útero. Útero, onde tudo era escuro e quente e onde o cordão umbilical supria sua alimentação. Durante todo o dia, ela tinha poucos estímulos e a vida era boa: só dormia, acordava, se mexia e se distraía escutando alguns ruídos. Agora, aqui fora, vozes, luzes, frio e gente a manipulando e incomodando com certa frequência. Fralda, roupa, meia, touca, uma parafernália. E a fome? E a sede? Sem mais cordão, agora ela tinha que aprender outra forma de se alimentar. É instintivo? Sim, em parte. Não para todos, não totalmente. As mães que amamentam sabem do que estou falando.

Então, eu passava muitas e muitas horas do meu dia olhando aquele rostinho. Estudando. Tentando decifrar cada sutil sinal de mudança, para saber se havia desconforto, incômodo, fome, frio, o que fosse. Ela nasceu no inverno, o que aumentou ainda mais a minha neurose contra o frio. Quando ela chorava, eu tinha que fazer alguma coisa. Mas o quê exatamente? Eu ainda tinha que descobrir. E rápido!

Dessas coisas do pós-parto eu me lembro. De me esquecer de respirar. De ter vertigem, medo, taquicardia. De perder a tranquilidade por um simples pensamento de que algo não ia bem. E olha que minha filha é saudável...

Não é exagero dizer que o choro do bebê pode despertar na mãe uma certa dose de desespero. Mesmo sendo racional, sabendo que o choro é uma forma de comunicação e não necessariamente de dor ou sofrimento, o instinto não a deixa em paz até que o bebê esteja calmo. E que instinto é esse? Ela não sabe ao certo. Ainda está aprendendo.

O que eu buscava era quietude para escutar e  perceber os pequenos sinais do meu bebê. Também precisava de silêncio para escutar meus próprios pensamentos, sentir e ouvir o meu instinto. É quase místico, como se alguém tentasse escutar a voz de um peixe dentro de um aquário. Um aquário numa churrascaria. Com rodízio e música ao vivo. 

É como soa o mundo de hoje.

Se voltássemos no tempo, até as civilizações primitivas, imagino que veríamos as mães em pós-parto se isolarem com o bebê em algum tipo de caverna escura, deserto, canto de floresta, oca secreta, não sei. Algo que propiciasse passar algum tempo conhecendo o bebê e se apresentando a ele. Algo que possibilitasse tecer esse primeiro e delicado fio de comunicação.

Quando ela levantou seus olhos para mim pela primeira vez, numa daquelas madrugadas cansadas, eu falei: "Ela me viu!". Meu irmão estava junto, me ajudando. Ele disse que ela estava me reconhecendo.

"Oi, neném, aqui é a mamãe."

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Vivendo para aprender

São tantas perguntas diferentes e tantas respostas possíveis na vida de uma mãe, bem que podia ser como naquele programa de televisão. A pessoa é perguntada e colocada diante de algumas alternativas. O relógio marca o tempo. Ela pensa, franze a testa, morde a unha de tanto nervosismo. A família toda torcendo. Aí o apresentador: "Você quer a ajuda dos universitários?". A coitada aceita. Afinal, nada como a opinião de um especialista (?) no assunto.

Eu admito, tenho meus "universitários", a preciosa rede de conhecimento a quem recorro em caso de dúvida. Ao contrário do que acontece no programa de auditório, posso realmente chamá-los de especialistas, fazem jus a isso. O pediatra experiente, o irmão médico, as amigas (nutricionista, enfermeira, fisioterapeuta, dentista, psicóloga, etc), e até outras mães com quem uso de liberdade para pedir conselhos.

Uma dessas mães amigas, dia desses, me surpreendeu. Com uma das coisas mais sábias que já ouvi uma mãe dizer. 

Eu disse a ela que tinha dúvidas sobre como dar comida a meu bebê. Deixo a criança pegar a comida com a mão, sujar tudo, ou não? Ela me explicou rapidamente como fazia quando tinha filho pequeno: sentava com ele no chão sobre uma toalha de mesa para lhe dar de comer. Deixava a criança aprender a comer sem medo, porque estava tudo coberto com a toalha.

Então, ela fez uma ressalva, com precisão e sabedoria:

"Não estou dizendo que o meu jeito é o certo, não, viu?"

Olha só que legal essa mãe dizendo isso. 

Eu faço dessas palavras as minhas. Para tudo o que eu tiver a pretensão de ensinar ou indicar por aqui.

Uma especialista, da minha rede de "universitários" me perguntou como estava sendo a vida com a nenê. Eu disse que era maravilhoso observar minha filha aprendendo as coisas. Contei que quando vamos como ela ao shopping, vislumbro melhor a perspectiva de alguém que busca aprender tudo. Ela diz "oi" para as pessoas que estão às mesas dos restaurantes. Ela olha os rostos das pessoas sentadas nos bancos e sorri. Ela para em frente a uma vitrine por muito tempo, talvez se perguntando por que os manequins de loja de roupa não têm cabeça.

Eu concluí: "Ela vive para aprender; desde o momento em que acorda até a última hora do dia, ela está aprendendo coisas."

E a especialista me disse: 

"Então ela vive para aprender. Igual a você. Igual a gente."

Gostei demais. É verdade, a gente vive para aprender. Pelo menos, deveria. 

Ainda temos consciência disso? De que, como a criança, vivemos para aprender?

Você agora é mãe. E agora você vive para aprender.

Muitas mães dizem: "Eu ensino meus filhos da maneira como me ensinaram quando eu era pequena. Não posso transmitir algo que não recebi." Isso é parcialmente verdade. E totalmente falso. Afinal, você só tinha capacidade de aprender quando era filha? E agora que é mãe, não vai aprender mais nada? 

Outra coisa: por acaso, você não vê nenhum defeito na criação que te deram e vai querer fazer tudo igual? 

Pior: detesta a criação que te deram e vai fazer só o oposto?

As alternativas acima são o caminho mais fácil. 

Se esse é o caso, perca a vergonha de uma vez e admita logo que está agindo por preguiça.

Eu também estou falando isso para mim mesma. Para espantar minha preguiça mental.

Todo o conhecimento profissional que alguém acumula para participar do mercado de trabalho não pode ser estático. Então, se pergunte: por que o conhecimento da profissão de mãe seria? 

O mundo hoje é diferente de antes, nós e nossos filhos também. 

Mas ainda que todos esses fatores externos não nos afetassem, observe apenas a linha do tempo: ser mãe de um bebê não é como ser mãe de uma criança. Assim como ser mãe de um adolescente é diferente de ser mãe de adulto. O aprendizado continua e não para. Minha filha vai crescer como pessoa e eu também vou crescer como mãe. Não importa quanto conforto você encontre em ser mãe de um bebezinho, isso vai passar. Eu não serei para sempre a mãe de um bebezinho, porque ela não será para sempre um bebezinho.

É isso. Rapadura é doce, mas não é mole não.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Fórum de mães: salve-se quem puder!

Há certos benefícios em participar de fórum de mães, mas nenhum deles justifica o aborrecimento que existe ali. Você pode ser beneficiada ao saber de alguma dica ou informação relevante, mas isso pode ser obtido em ambientes mais inofensivos, simplesmente lendo o que escrevem os especialistas ou até consultando um livro (o que tenho e uso é: A vida do bebê. Dr. Lamare. Um clássico, vale a pena).

Não procure o fórum de mães para se queixar de dores. Sejam elas as do parto, as da amamentação, ou as do bebê. Se a queixa for sobre parto normal, as defensoras da cesárea pegarão no seu pé, exaltando os benefícios daquela singela cirurgia (só sete camadas de tecido cortadas e costuradas). Se for pós-parto de cesárea, as militantes do parto normal marcharão sobre você carregando suas bandeiras já surradas pela guerra. É muito enfrentamento para uma mulher que já está derrubada. O mesmo vai acontecer no caso de dúvidas sobre amamentação. Tem o time da mamadeira e seu adversário, do leite materno exclusivo. As primeiras são taxadas de capitalistas preguiçosas pelas últimas. A resposta é atribuir a pecha de "índia" ou "hippie" às do aleitamento. É um grande conflito. Pense em israelenses e palestinos. Pois é. Isso não terá fim.

O motivo por que você não deve falar sobre as dores de seu bebê é que surgirão dois tipos de pessoas para te aconselhar: as automedicantes e as pediatrianas. Você sabe que não deve automedicar o bebê. Então, o único conselho válido é que consulte o pediatra. Logo, em vez de expor sintomas do bebê para o fórum, ligue para o pediatra! Pior é mandar foto do bebê doente para o fórum! Por favor, não..! há milhares de pessoas do outro lado vendo a urticária do seu neném. Pense nisso.

Não procure o fórum de mães para desabafar sobre depressão pós-parto. Podem te desprezar por isso. Você vai encontrar mães que se levantaram no mesmo dia que pariram, foram para casa, deram banho no recém-nascido, fizeram a faxina, capinaram, cozinharam, lavaram panelas e carregaram o caminhão de mudança da vizinha.

Não procure o fórum de mães para reclamar do marido. Você apenas encontrará milhares de outras mulheres insatisfeitas com os seus respectivos. A sua queixa causará um efeito cascata de comentários semelhantes que não está sob o seu controle, nem sob o controle dos governos, nem das grandes corporações. A internet e todo o sistema que conhecemos podem entrar em colapso por isso.

Por último, não procure o fórum de mães para falar de seus êxitos. Sempre haverá uma mãe com uma história melhor que a sua, com um parto melhor que o seu, com um filho maior que o seu. Sempre haverá uma mãe que se compara às outras para se afirmar como a melhor mãe de todas. Não sei por que fazem isso, ou melhor, sei. Elas precisam se sentir as melhores em algo. Nem que às custas da sua autoestima. Nem que seja por loucura.

Há hormônios demais envolvidos nisso, portanto, não mexa. Nunca entre em discussão sobre qualquer tema, porque a pessoa do outro lado pode estar levando isso a sério demais.

E outra: você agora é mãe. Seu tempo é precioso. A opinião de uma pessoa desconhecida não vale uma fralda suja. Em vez de discutir, vá dormir. É melhor assim.

Mas caso você tenha sido afrontada ou ofendida por alguém, ainda pode se compadecer da pessoa que te fez mal e perdoá-la por seus excessos. Apenas silencie e resista à tentação de replicar. Todas as mães têm algo em comum. Estão tentando fazer o melhor por seus filhos, mesmo que de maneiras diferentes e com (i)limitações. Isso funciona de um jeito para cada pessoa.

Espero que, para você, assim como para mim, a maternidade funcione de maneira a nos tornar pessoas melhores do que já fomos. Sim, eu tenho essa esperança.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Criança no avião

Com toda a franqueza, quem nunca tremeu na base ao perceber que na fila de embarque do voo pipocam crianças agitadas? Bebês, então, nem me fale. Eu já estive dos dois lados. Dessa vez, a criança no avião era minha, pois na semana passada viajamos com ela, de um ano e meio. 

Depois da polêmica gerada pelos pais que presenteiam os demais passageiros com doces, tampões de ouvido e um pedido antecipado de desculpas, eu mesma fiquei com receio de que ela não fosse se comportar. Eu jamais ia levar doces de presente (vai que tem diabético nessa história). E outra: todo mundo tem que aprender a se comportar, e não subornar as pessoas para suportarem seu mau comportamento. Claro, não estou falando dos bebezinhos que choram pelo incômodo, mas de criança da idade da minha.

A dica da especialista que li dizia que o melhor a fazer é integrar a criança ao ambiente. Se ela cumprimentasse as pessoas, isso geraria um vínculo e uma certa dose de empatia. Desse modo, seria mais fácil para as pessoas lidarem com ela em caso de choro ou incômodo.

Pois foi exatamente o que aconteceu. Minha criança sorriu para todo mundo, falou "oi", trocou sorrisos, enfim... foi uma viagem super agradável. A própria Miss Simpatia não faria diferente.

Ainda assim, meu maior receio era que ela chorasse na hora da decolagem e do pouso, assustada com o barulho das turbinas. Felizmente deu tudo certo. Fizemos uma associação de ideias para ajudá-la. Como ela já conhece o barulho do trânsito que passa em frente de casa, nós associamos esse ruído familiar ao do avião. Então, quando veio aquele ruído forte da turbina, falamos para ela: "Olha a moto!". E aí, no meio do barulhão, ela ficava procurando a bendita moto, ou seja, sua mente se distraiu do medo e do estranhamento e se voltou para a curiosidade.

Eu não sou especialista no assunto. Isso foi apenas uma experiência que deu certo, e foi só dessa vez. Pode ser que em outro voo ela chore, fique irritada, não acredite na "moto".... enfim. Maternidade tem altos e baixos. Mas temos que tentar.

Há alguns anos, em outro voo, fiquei com pena de uma criança que viajava três poltronas à nossa frente. Era um menino de dois ou três anos, que tinha medo do cinto de segurança. Como tinha de colocar o cinto na decolagem e no pouso, a criança ficou gritando e esperneando incansavelmente. Gente, ele chorou muito! Os pais não fizeram nada. Não consolaram, não ajudaram, nada. Talvez estivessem cansados ou constrangidos... talvez tudo isso junto. Sabe, não trago uma crítica, mas a indicação de uma nova perspectiva. Eu e você, mães e pais, temos que entrar no mundo da criança para falar com ela. 

Tenho uma amiga cujo filhinho precisava usar óculos. Na época, ele tinha três anos. Como ela o convenceu? Disse que eram óculos de astronauta (tcharam!). Isso é criatividade. 

De repente, sei lá, os pais daquele menino podiam ter inventado que aquele era o cinto do Batman. Ou que a turbina do avião era o King Kong (bom, isso talvez não...).

Muitos pensadores e filósofos concordam que, na atualidade, estamos atravessando uma transição da era do conhecimento para a era da criatividade. Outro dia falo mais sobre isso. O fato é que, para a criança, importa ser criativo. A pessoa adulta tem mestrado e doutorado, mas não sabe inventar uma história da carochinha para distrair o filho? (Agora, sim, veio a crítica). Faz favor. Vamos mudar. Os filhos precisam que a gente mude. Isso é por eles e por nós também.

Como fazer tudo em casa



Eu aqui me metendo a dar dicas de cozinha e tem um livro ótimo sobre isso! 

A autora é americana e entrevistou vinte mulheres da idade de nossas avós. São experts no assunto. Elas dão dicas muito práticas sobre cozinha, cuidados com a casa, com as roupas, organização, compras, limpeza, etc. E o melhor, tudo com economia! O livro é dividido por seções. A leitura é super agradável, cada capítulo escrito em forma de uma receita curta. Humor leve, conselhos práticos, enfim, recomendo. Tá certo que têm coisas que não vamos aproveitar (como a receita de torta de mirtilo, por exemplo... alguém?), mas a leitura pode valer para a gente aprender algo ou se aperfeiçoar.

Esse livro me lembra a Cássila, minha amiga mais prendada!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Estaca zero na cozinha

Hoje vou começar esse blog para sair da estaca zero. Ia esperar aprender a mexer nele para começar, mas decidi que vou assim mesmo. Depois a gente vai arrumando.

Tenho amigos que me incentivam a escrever quando leem meu material, tenho pessoas que elogiam meu trabalho, enfim... isso me levou a criar esse blog. Provavelmente vou falar de maternidade, de gravidez, mas também de outras coisas. Talvez de coisas de casa, leituras, vivência, talvez de poesia. Ainda não sei. Você só sabe o que criou depois que vê pronto. Tenho muito a dizer, mas preciso escolher o filtro que vou usar. Se é que vou usar.

Hoje vou falar sobre cozinhar, porque o termo estaca zero me remete a isso. É porque antes eu não sabia cozinhar. Zero. E hoje fiz a melhor sobrecoxa de frango assada que já comi (antes eu nem sabia o que era sobrecoxa). 

Estou dona de casa desde 2012, quando engravidei (porque preferia comer o que eu mesma preparasse). Desde então, sigo cozinhando quase todos os dias. Aqui em casa eu faço comida separada para nós e minha filha. Um dia ainda falo sobre comida de bebê. Mas não sou cozinheira, nunca fui. Antes de engravidar e ser mãe, eu não cozinhava, porque meu horário de trabalho não permitia. Além disso, em regra, o marido cozinhava nos finais de semana. Por isso a maternidade (incluindo gravidez) foi uma grande virada na minha vida - nesse caso, na minha cozinha. Tenho a impressão de que quase toda mãe já precisou aprender a cozinhar, algumas com sucesso, outras não.

Eu quase desisti. Porque tinha a impressão que não tinha jeito pra aquilo. Cozinhar era uma aventura perigosa, nada gratificante e, muitas vezes, frustrante. Primeiramente, pouco importava o resultado, ou seja, o sabor da comida. Se eu conseguisse sair da cozinha sem me cortar, sem me queimar e sem provocar uma combustão de gás, já estava no lucro. Depois, passou a ser importante não estragar a comida. Eu jogava fora muita comida queimada, salgada demais, passada do ponto, etc. Também matei algumas panelas. Mas tive a sorte do marido incentivar e não desencorajar. Lutei contra a crença de que nunca poderia fazer uma comida boa. 

Acho que venci.

Na primeira vez em que fui a um restaurante e percebi que sabia fazer uma comida melhor que aquela, eu secretamente venci essa etapa. Não me lembro o dia em que isso aconteceu. Também não me lembro qual era o restaurante, nem a comida, mas a sensação que tive foi boa.

Essa pequena vitória me incentiva a compartilhar com outras mães, que se identificam com a situação, algumas dicas. Repito, não sou cozinheira, nunca fui. Mas não sou incapaz de aprender e nem de ensinar. Ninguém é incapaz.

Seguem, então, algumas dicas práticas, bem singelas. Não as menosprezem os mais experientes, porque são dicas para quem ainda busca sair da estaca zero:

1. Toda refeição tem uma "estrela", isto é, um prato principal, cujo sabor deve prevalecer (a não ser que você esteja fazendo um miojo ou um "mexidão" (que alguns chamam de "xepa"). As demais coisas são acompanhamentos e devem ter um sabor mais suave, que realçam ou contrastam o prato principal. Por exemplo, se você faz um bife temperado com alho, não vá usar alho demais para temperar o arroz, a salada e o feijão. Senão vai ficar tudo com gosto de alho. 

A propósito, hoje em dia eu não como mais miojo. Não porque não goste, mas é que não consigo mais, passo mal. Acho que já estourei a cota de miojo permitida para o meu tempo de vida.

2. Na minha humilde opinião, cebola, alho e pimentão são a base do sabor para qualquer prato principal (geralmente, carne, frango ou peixe). Sem esquecer, claro, o sal. Se você não usa essas coisas, fica sem gosto mesmo. Há quem não goste de pimentão e prefira coentro, pimenta, cominho, outros temperos, enfim... mesmo com variantes, o fato é que sem tempero não tem como fazer uma comida decente. Outra dica: para carne vermelha assada, é ótimo usar molho de soja. Cuidado, porque ele já é salgado. Nesse caso, se usa menos sal. Eu também passo na carne um pouco de mostarda extra-forte, que vem num vidrinho. É diferente da que se usa para sanduíche, não é toda amarela, é marrom e tem uns pontinhos. Além disso, na carne vermelha não pode faltar um pouquinho de pimenta-do-reino.

3. Quando você refogar cebola e alho juntos, coloque primeiro a cebola e depois o alho. É porque se você colocar o alho primeiro, ele vai queimar, queimar a panela, e a cebola vai ficar crua. Aliás, eu nem expliquei o que é fazer refogado. É quando você coloca óleo na panela (fogo aceso), depois a cebola, depois um pouquinho de água até ela cozinhar aos poucos. Aí depois você coloca o alho.

4. Sobre o frango, se você for cozinhar com água ou fazer cozido de panela (em outra postagem eu explico), tem que remover a pele antes. Ela é muito gordurosa e solta óleo quando cozida. A pele do frango deixa um cheiro muito estranho também, a ponto de algumas pessoas ficarem com nojo de comer (eu). Mas se você for fazer assado, deixe a pele. De preferência, coloque o pedaço de frango com a pele virada para cima na assadeira, pelo menos quando já estiver quase terminando de assar (nos últimos dez ou cinco minutos). Cuidado para não se queimar quando for virar o frango no forno quente!

Ah, e sabe quando a gente usa manteiga ou margarina para fazer torrada (de pão)? A mesma coisa pode (e deve) ser feita no frango. Passe um pouquinho de manteiga na pele do frango quando for assá-lo. Fica super douradinho e crocante (lembrando de não deixar queimar).

Pois bem, essas são as dicas de hoje. Pelo menos a gente já saiu da estaca zero. Agora já vou, porque tem muita coisa para fazer em casa. Eu vou continuar escrevendo aqui, viu? Se alguém tiver alguma dica para mim, deixe nos comentários. Como falei, eu ainda estou aprendendo.