O ano ainda nem acabou e já tenho motivos suficientes para ser grata por tudo o que se passou nele.
No início de 2014, ela estava na fase de transição alimentar. Eu estava feliz, porque tinha aprendido a cozinhar para minha nenê, ela gostava da minha comida e estava ganhando peso e crescendo.
Eu achava que esse era o único sucesso da minha vida: minha filha saudável e feliz.
Fora isso, meus projetos de estudo haviam falhado, além de outros planos que tinham ido por água abaixo.
Fora isso, meus projetos de estudo haviam falhado, além de outros planos que tinham ido por água abaixo.
Frustrante. Eu me sentia velha e começando minha vida ainda. Tardiamente.
De lá para cá, aparentemente, pouca coisa mudou. Claro, o ano passou e eu envelheci um pouco.
Mas agora me sinto nova, porque estou começando minha vida ainda.
Felizmente.
Felizmente.
Eu costumo descer do apartamento com ela para tomar sol e andar um pouco, quase todos os dias. Geralmente, procuro crianças para ela brincar também. O problema é que nem todas as crianças são simpáticas ou receptivas. Quando ela percebe isso, também não insiste e prefere brincar sozinha.
Então, um dia ela ganhou essa bola de futebol do avô materno. Não era uma dente de leite, era uma bola de futebol de verdade. Ela amou o presente e ontem eu resolvi ficar com ela embaixo do bloco, brincando com a bola. Não pretendia me movimentar muito, estava com preguiça de jogar a bola com as mãos. Por comodismo, então, resolvi ficar chutando a bola contra a parede.
Futebol é uma coisa preguiçosa, pensei.
Futebol é uma coisa preguiçosa, pensei.
Ela adorou. Gritava "mamãe!", corria e dava risadas altas.
Ventava muito e vento queria levar a bola. Ela se empolgou cada vez que me via correndo de havaianas atrás da bendita bola.
Ventava muito e vento queria levar a bola. Ela se empolgou cada vez que me via correndo de havaianas atrás da bendita bola.
Corremos juntas.
Falharam os meus planos de ficar parada.
Falharam os meus planos de ficar parada.
E esse foi um dos momentos mais desajeitados e alegres para mim, nesse ano.
Um dos mais alegres, sim, por perceber o início da troca entre mim e ela.
A autora Laura Gutman fala sobre isso no livro "A maternidade...". Segundo ela, o que o adulto tem a oferecer à criança é a racionalidade do mundo, a lógica, as explicações, a cultura, a educação. Mas o que a criança tem a oferecer ao adulto é o lúdico, a criatividade, a imaginação, a fantasia e brincadeira.
A autora Laura Gutman fala sobre isso no livro "A maternidade...". Segundo ela, o que o adulto tem a oferecer à criança é a racionalidade do mundo, a lógica, as explicações, a cultura, a educação. Mas o que a criança tem a oferecer ao adulto é o lúdico, a criatividade, a imaginação, a fantasia e brincadeira.
Eu concordo. De alguma forma, toda criança busca o que temos a lhe oferecer, porque ela vive para aprender. Receptiva, observadora, ela tenta compreender o que se passa no mundo. Depois que começa a falar, então, vive para perguntar e buscar respostas.
Mas e do nosso lado? Estamos abertos para o que elas têm a nos oferecer?
Mas e do nosso lado? Estamos abertos para o que elas têm a nos oferecer?
Espero que sim.
Espero que, sendo pais ou mães, saibamos que o fato de sermos adultos não nos faz senhores da razão. Não nos faz nem senhores de nós mesmos, tanto que temos que repartir o tempo que antes era só nosso com nossos filhos. Preservar o que é nosso e cuidar do que é deles. Para a saúde emocional deles e a nossa.
E isso não vale apenas para quem tem filhos. Li em algum lugar que uma pessoa se sentia grata pelo cachorro de estimação. Ao se ver obrigada a cuidar dele, levando-o para passear todos os dias, ela era levada a cuidar da própria saúde também. O cachorro precisava caminhar, ver o sol, as árvores, a paisagem. O dono do cachorro também. E assim se curavam silenciosamente as feridas do dia.
Essa cura silenciosa é o resultado de sair da zona de conforto.
Ela está operando em mim.
E eu sou grata por tudo isso.