quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

É um prazer te conhecer

Lá pelos idos de 2013, um amigo nos perguntou como estava nossa vida com a neném. Na época, ela ainda era recém-nascida. A resposta que demos foi: "Ainda estamos nos conhecendo. É uma adaptação." Essa era a nossa sincera impressão. Pelo semblante do nosso amigo, a resposta sincera o surpreendeu. E, estranhamente, a mim também. Ouvir isso em voz alta confirmava uma quebra de paradigma. Um paradigma que o marketing e a cultura popular ostentam e divulgam: que quando nasce um bebê, nasce uma mãe pronta (e um pai também). Tudo maravilhoso, certo?

Bem... você sabe.

Nas primeiras semanas pós-parto, eu sentia que tinha um hóspede em casa. Mas como esse hóspede não falava, eu tinha que decifrar todos os pequenos sinais possíveis, a fim de descobrir quais eram suas necessidades. Esse era o meu lado. 

Do outro lado, estava ela, tentando se adaptar à vida fora do útero. Útero, onde tudo era escuro e quente e onde o cordão umbilical supria sua alimentação. Durante todo o dia, ela tinha poucos estímulos e a vida era boa: só dormia, acordava, se mexia e se distraía escutando alguns ruídos. Agora, aqui fora, vozes, luzes, frio e gente a manipulando e incomodando com certa frequência. Fralda, roupa, meia, touca, uma parafernália. E a fome? E a sede? Sem mais cordão, agora ela tinha que aprender outra forma de se alimentar. É instintivo? Sim, em parte. Não para todos, não totalmente. As mães que amamentam sabem do que estou falando.

Então, eu passava muitas e muitas horas do meu dia olhando aquele rostinho. Estudando. Tentando decifrar cada sutil sinal de mudança, para saber se havia desconforto, incômodo, fome, frio, o que fosse. Ela nasceu no inverno, o que aumentou ainda mais a minha neurose contra o frio. Quando ela chorava, eu tinha que fazer alguma coisa. Mas o quê exatamente? Eu ainda tinha que descobrir. E rápido!

Dessas coisas do pós-parto eu me lembro. De me esquecer de respirar. De ter vertigem, medo, taquicardia. De perder a tranquilidade por um simples pensamento de que algo não ia bem. E olha que minha filha é saudável...

Não é exagero dizer que o choro do bebê pode despertar na mãe uma certa dose de desespero. Mesmo sendo racional, sabendo que o choro é uma forma de comunicação e não necessariamente de dor ou sofrimento, o instinto não a deixa em paz até que o bebê esteja calmo. E que instinto é esse? Ela não sabe ao certo. Ainda está aprendendo.

O que eu buscava era quietude para escutar e  perceber os pequenos sinais do meu bebê. Também precisava de silêncio para escutar meus próprios pensamentos, sentir e ouvir o meu instinto. É quase místico, como se alguém tentasse escutar a voz de um peixe dentro de um aquário. Um aquário numa churrascaria. Com rodízio e música ao vivo. 

É como soa o mundo de hoje.

Se voltássemos no tempo, até as civilizações primitivas, imagino que veríamos as mães em pós-parto se isolarem com o bebê em algum tipo de caverna escura, deserto, canto de floresta, oca secreta, não sei. Algo que propiciasse passar algum tempo conhecendo o bebê e se apresentando a ele. Algo que possibilitasse tecer esse primeiro e delicado fio de comunicação.

Quando ela levantou seus olhos para mim pela primeira vez, numa daquelas madrugadas cansadas, eu falei: "Ela me viu!". Meu irmão estava junto, me ajudando. Ele disse que ela estava me reconhecendo.

"Oi, neném, aqui é a mamãe."

2 comentários:

  1. Que lindo!!! Realmente não tem nada melhor que esse reconhecimento do bebê, seu olhar, seu toque, hum, que saudade!!! Faz tempo!!! Agora estou aprendendo a ser mãe de uma jovem de 22 e de um jovem de 14, ui!!! Bom demais!!!

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