As mulheres são as pessoas que mais se sacrificam nesse mundo.
Você, que agora é mãe, sente na pele isso.
Quando as mulheres da minha geração são homenageadas, deveriam se lembrar que essa homenagem cabe, na verdade, às mulheres de outras gerações. Nós aqui estamos sendo apenas simbolicamente lembradas. O que temos hoje (igualdade perante a lei, ao menos formal, direito ao trabalho remunerado, ao voto, e muitos outros direitos, inclusive relativos à maternidade) é fruto da luta delas, não nossa.
Acho importante dizer isso, porque sempre me senti fora de lugar nas celebrações do dia da mulher no meu trabalho, com a chefia colocando a mulherada num auditório para ouvir elogios, música, e depois presenteando todo mundo com flores e bolos de chocolate.
Amo flores e bolo de chocolate. (Música, aí já depende...)
Mas essa homenagem não me pertence, eu sentia.
E dá vontade de dizer o seguinte.
Se os estadistas querem homenagear as mulheres, respeitem primeiro nossas crianças, dando a elas uma educação digna. Se os homens querem homenagear as mulheres, mais respeito com a mulher que anda sozinha na rua, para que ela não se sinta constrangida com o palavreado chulo de que frequentemente é alvo. Se os patrões querem homenagear as mulheres, extirpem de suas condutas o assédio moral e eliminem de vez as piadinhas estereotipadas.
Para qualquer pessoa homenagear a mulher, respeite suas escolhas de vida, respeite as que não querem se casar e as que não querem engravidar, respeite a escolha de parto, respeite seu direito de amamentação. Respeite a mãe que dá mamadeira ao bebê. Respeite as que querem ter um filho só e as que querem ter muitos filhos. Respeite a que escolheu trabalhar em casa e a que estudou para trabalhar fora e contratou babá e empregada. Respeite a avó idosa que, se ganhasse em dinheiro por hora de trabalho, seria milionária. Mas trabalhou a vida toda além do que devia, por dever de esposa e mãe. Fez tudo por amor.
Respeite a inteligência de uma mulher, não como se ela fosse um homem. Porque ela não precisa ser vista como homem para ser respeitada.
É um aprendizado e tanto para homens e mulheres. Respeitar, sejam as jovens, as mães, as professoras, as babás, e todas aquelas que merecem, antes de mais nada, o nosso amor e consideração. Amor diário, e não de ocasião ou de data.
Eu nem falo em feminismo, porque não me refiro a uma politização de comportamento. Falo de conceitos óbvios demais para serem politizados.
Não parece estranho que seja preciso gastar tanto tempo hoje em dia falando sobre coisas óbvias? Sobre amar ao próximo e valorizar nossas mães?
É estranho, sim. É quase assustador.