quinta-feira, 16 de abril de 2015

Leituras inacabadas


Terminar algo que você começou está cada dia mais raro.

Você, que agora é mãe, sabe disso.

Há alguns meses comecei a ler livros com temas variados. Três títulos. Tudo ao mesmo tempo. O intuito era motivacional, depois informativo... acabei, por fim, lendo por lazer, diversão. Fazia tempo que eu não lia por puro entretenimento.

Mas não acabei as leituras totalmente. Os livros estão empilhados na estante do quarto.

Em algum lugar do passado, alguém chamado "eu mesma" me acusaria de não terminar o que comecei.

Para minha felicidade, aquela pessoa mudou.

Foi devagar, mas foi. 

O primeiríssimo livro, o primeiro da minha vida de mãe, eu li todo. Todinho.

Aí veio o segundo, sobre empreendedorismo. Na metade dele, resolvi colocar em prática os conselhos. Escrevi um outro livro. Escrevi uma lista. Fiz vários projetos, tive ideias mirabolantes que jamais colocarei em prática. Mas tudo funcionou. Para fazer meu cérebro sacudir a poeira e arejar suas engrenagens. Aí o abandonei-o-o (o livro, não o cérebro).

O terceiro livro era sobre estratégias de guerra. Foi aí que começou a diversão. Além de degustar um assunto praticamente novo para mim, relembrei algumas aulas de História Mundial, o que rendeu conversas interessantíssimas com o marido, que é fascinado pelo assunto.

Por estranho que pareça, hoje eu penso que toda mãe precisa conhecer estratégias de guerra. Ela precisa escolher que batalhas travar; e de quais combates precisa desistir. Precisa saber quais são suas capacidades e pontos fracos. Precisa identificar os inimigos e colocá-los no alvo.

Por estranho que (não) pareça, hoje também penso que toda mãe precisa conhecer gestão administrativa. Como gerenciar seu tempo e evitar desperdícios. 

Aí olhei a grossura do livro e não hesitei, o abandonei, também.

Estão os três lá na estante, dois deles inacabados.

Mas eu não. Estou em movimento. 

E se estou em ação, como poderia pensar que não tive sucesso? Só porque não terminei aquelas leituras?

Que besteira.

Eu, que no passado me culpava, mudei de ideia.

Se meu intuito era motivacional, alcancei o objetivo. Me sinto mais motivada, fazendo o que precisa ser feito. Se o intuito era informativo, acertei de novo. Estou estudando, não como fazia antes de minha filha nascer, mas algo próximo. Se lia para ser entretida, ótimo pra mim. Nada me entretém mais do que assumir minhas incumbências, meus assuntos e minha vida.

A pilha de livros, com a leitura inacabada, serviu de escada. Cada livro foi um degrau que subi para sair da inércia, para livrar a mim mesma do que não faz falta. Hoje, a tarefa não cumprida não me oprime. Aprendi, cresci, parabéns. 

E vem agora a lição.

Colocar em prática dez por cento do que você lê vale mais do que ler cem por cento de um livro por culpa, e não fazer mais nada.

Em outras palavras.

Que tristeza é alguém não fazer nada, por achar que se livrar da culpa é o suficiente para ser feliz!

No passado, a culpa me dava as ordens, mas hoje ela não vale mais nada para mim.

Fazer alguma coisa, aliás, é o que vale. Para mim, para você, para quem quer que seja.

Quem é mãe sabe disso.