quinta-feira, 18 de junho de 2015

Carta aberta à mãe perfeita


Olá, mãe perfeita. Tudo bem?
Se você existisse, eu diria que te admiro, de coração.
Você, que conseguiu o tipo de parto que planejou.
Você, que não teve dificuldades em amamentar um bebê com pesagem ótima.
Você, que perdeu todos os quilos que adquiriu na gravidez e voltou às medidas de antes.
Você, sempre pronta e disposta ao ser procurada por seu par.
Você, que dorme a noite toda e não tem olheiras.
Você, cujo bebê preenche toda a descrição de felicidade.
Você, que se sente bonita e tem amor incondicional.
Não chora, não se frustra, não se irrita com os comentários alheios.
Você foi contemplada com o máxima dádiva.
Cuida de tudo sozinha. E não reclama.
Como você tem todas as respostas?
Quando você fala, os outros se sentem ignorantes.
Mas fique à vontade para me mostrar sua felicidade.
Sua sabedoria, sua suprema bondade.
Eu só não confraternizo contigo porque você não é de verdade.
Eu só não te aplaudo mais, porque você, mãe perfeita, não sou eu.
Eu venci muitas lutas comigo mesma todos os dias.
Vi a face da minha própria mortalidade, ao mesmo tempo em que comecei a carregar aquele peso.
A séria responsabilidade de ter posto uma pessoa no mundo.
E nesse caminho, precisei de respostas quando ainda nem sabia quais eram as perguntas.
Sentia que tinha que me levantar antes mesmo de cair.
Diferente de você, perfeitinha, eu nem sempre acertei.
Nem sempre me aceitei.
Muitas vezes, com dúvidas, hesitei.
Mas os erros e a hesitação me ensinaram a humildade do aprendizado.
As lágrimas que verti abriram meus olhos para ter empatia com a dor alheia.
Para chorar com quem chora.
Para silenciar e ouvir.
Para a aceitação.
Para acreditar que há um motivo.
Mesmo sem motivo.
E a fraqueza extrema me fez sentir a essência da humanidade. 
A minha, a sua, a nossa.
E como o ser humano é forte. Com todas as imperfeições.
Foi penoso construir sentimentos que não vêm em pacotes de loja.
Coragem, resiliência, compaixão.
E a luta pelo amor do meu bebê me fortaleceu o coração.
Para hoje enfrentar qualquer batalha.
Inclusive aquela, de me olhar no espelho sem me criticar.
Inclusive, tendo a ousadia de não fazer qualquer ressalva, quanto ao que eu era e quanto ao que sou hoje.
Mãe perfeita, hoje eu estou a meu favor.
E não contra mim.
Lógico que eu te admiro.
Você não tem conflitos existenciais.
Mas eu me admiro mais.

2 comentários:

  1. Querida Vivi, que texto lindo e verdadeiro. Para mim, vc já é uma supermãe: carinhosa e extremamente dedicada. Deus continue te abençoando na nobre missão de fazer da Jordana uma mulher de Deus!!!

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    1. Obrigada, querida Wal, pelas palavras carinhosas! Estou buscando esse caminho, sempre no processo de aprendizado, que dura a vida toda... Amo você! Um beijo grande!

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