segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O eterno neném

Tenho essa curiosidade. Quando é que a gente começa a chamar a filha ou filho pelo nome? Quando o neném ainda está na barriga ou só depois que nasce?

Aliás, tem gente que ainda não chama o filho pelo nome. Tá lá no aniversário de trinta anos do "neném".

Chamar minha filha pelo nome não é algo simples para mim. Não é por nada não. Gosto demais do nome que escolhemos. É outra coisa, mais subjetiva.

Digamos que a maneira como você chama uma pessoa define como é o seu relacionamento com ela.

Existem casais que se dão apelidos carinhosos, outros não. Existem amigos que só se chamam por apelidos. E tem gente que treme na base quando escuta os pais falando seu nome seguido do sobrenome.

Minha filha já tinha quase seis meses e eu só me referia a ela como "a neném".

A especialista me perguntou por que eu não falava o nome dela.

E foi aí que eu percebi que fazia isso porque não queria que ela crescesse. Na minha ideia, se eu falasse o nome, estaria admitindo que ela era uma pessoa como eu, e isso, na época, era difícil de imaginar. Eu mal estava aprendendo a cuidar de uma filha "neném", já ia ter que aprender a cuidar de uma filha "pessoa"?

Essa coisa de maternidade não tá muito rápida?

Não falar o nome dela também tinha a ver com o fato de que, subjetivamente, eu ainda a considerava uma parte minha. Afinal, ela tinha saído de mim, fisicamente, mas emocionalmente, ainda sentia que éramos mais ou menos a mesma pessoa. Ela, claro, mais linda do que nunca, e eu, o que restou depois de tudo.

Então a especialista me aconselhou a começar a falar o nome da minha filha. Nada ruim iria acontecer, ela prometia. Ela não ia virar adolescente, nem adulta, pelo menos não assim de repente. A especialista me garantiu, entretanto, que ela iria crescer, com certeza. E que eu iria me acostumar com isso, aprendendo aos poucos, crescendo junto com ela um pouco a cada dia. 

Com a neném dormindo em meus braços, escutei a especialista dizendo que um dia ela iria andar, falar, ir à escola, contar casos engraçados e aprender a ler e escrever.

Tudo isso para mim era surreal. Ela era apenas um bebê! Eu mal acreditava que os sapatos guardados de presente no armário um dia serviriam naqueles pezinhos.

Mas conforme a neném cresce, sua personalidade vai tomando forma e definição. Com seus gostos e preferências, com sua voz ecoando pela casa e seu próprio senso de humor, ela está crescendo. Já sabe muito bem quem somos. E aprendeu, mais do que rápido, a pedir tudo o que quer: água, comida, brincadeira, desenho ou piscina. Ela está aprendendo o que pode e o que não pode fazer. Sabe que tem um nome, tenta acertar a pronúncia. Também se esforça para aprender o nome de muitos objetos e de tudo aquilo que acha interessante. 

Ou seja, o nome de tudo.

Essa fase é bacana, de ensinar o nome das coisas. Particularmente, eu gosto de diminutivos, mas não quero ensinar palavrinhas a ela. É que diminutivos são pequenos demais para a curiosidade da pequena, que é grande.

O bom é que, enquanto ela vai enriquecendo o vocabulário, isso dá tempo para eu ir me acostumando com a ideia de, aos poucos, me tornar mãe de uma ex-neném.

Eu ainda a chamo de neném muitas vezes; mas chamá-la pelo nome é bom agora. Uma sensação de dever sendo cumprido.

Como é desafiadora a ideia de ter uma filha aspirante a pessoa grande!

2 comentários:

  1. É Viviane para nós mães é difícil encarar o fato que os nossos "nenéns" crescem. Porque como se diz: Para nós eles serão assim eternamente.

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